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Notas do Autor - Capítulo 2
E aí, pessoal? Tudo certo?
Eu gostaria de pedir desculpas pelo atraso na postagem das notas, pois esse fim de semana foi corrido devido a uma prova que fiz ontem (domingo). Mas cá estamos para falar um pouco sobre essa segunda parte da nossa história.
Se o primeiro capítulo foi apenas uma forma de introduzir os protagonistas e uni-los, agora foi a vez de concluir com o desfecho desse encontro entre ambos. Ruby e Sapphire agora estão formalmente apresentados um ao outro, e daí decidiram partir juntos em jornada. Agora vimos a conclusão dessa parte inicial da aventura — ainda nem é uma aventura, Shadow idiota! Do próximo capítulo em diante eles já partem em jornada, e isso não chega a ser um spoiler, porque acredito que vocês não aguentariam outro capítulo sem ver as rotas... Até porque eu já mostrei tudo que era necessário nesse começo, então insistir em ficar em Petalburg e Littleroot daqui pra frente seria apenas encheção de linguiça.
Tivemos também a aparição de uma personagem nova dessa vez. Ela não estava no primeiro capítulo, e acredito que os leitores mais antigos saberão identificá-la apenas pela descrição dada no trecho onde ela é apresentada. Mas aos leitores mais novos, não se preocupem, pois já no próximo capítulo revelaremos um pouco mais sobre ela.
Curiosidade:
Vocês sabiam que este capítulo deu exatas 4000 palavras no Word? Nem eu acreditei! kkkkk
Enfim, agora estamos a ponto de ver Ruby e Sapphire conhecerem seus primeiros parceiros de aventura. O próximo capítulo também servirá de abertura para uma história paralela, e acredito que vocês vão se interessar pela grande estrela dessa. É uma personagem que estou desenvolvendo com muito cuidado, porque ela vai ter uma importância muito grande quando as duas histórias — a dela e a principal — se cruzarem. Conseguem adivinhar quem seria?
Enfim, vou terminando as notas por aqui. Espero que tenham curtido esse capítulo. É, eu sei. Ele ficou um pouco grande para os meus padrões, mas eu realmente estava com a inspiração a mil quando o escrevi.
Fiquem na paz, amigos! õ/
Capítulo 2
Artimanhas do destino
As primeiras horas da manhã em
Petalburg eram de tranquilidade. Aos poucos, as pessoas saíam de
suas casas para seus afazeres enquanto o pequeno comércio local começava a
abrir suas portas. De dentro do Centro Pokémon saíam os treinadores que lá
haviam passado a noite, uma vez que o lugar oferecia um número limitado de
quartos para hospedar viajantes gratuitamente, e por isso eram tão disputados
quanto os hotéis da região.
A casa da família de Ruby também
despertava. Norman estava acordado desde as cinco horas. O novo líder de ginásio
de Hoenn levava uma vida bem regrada, e por isso tinha alguns costumes incomuns
à maioria das pessoas. Por conta disso, seu filho acabou tomando para si este
costume, embora ele levantasse um pouco mais tarde. Naquele momento o homem
retornava à casa após a caminhada que fazia pela manhã, todos os dias sem
falta. Dali ele foi direto tomar um banho frio para se livrar do calor que
estava sentindo. Logo em seguida, voltou para o lugar naquela casa onde tem
estado quase todas as horas dos seus últimos dias: o ginásio.
Passadas duas semanas de sua mudança,
o cenário já estava claramente diferente. Faltava apenas colocar o novo tatame,
e Norman já poderia receber seus primeiros desafiantes. O seu ginásio sempre
foi muito requisitado pelos viajantes, uma vez que os confrontos contra
especialistas em Pokémons normais tinham fama de serem desafiadores. Whitney em
Johto e Lenora em Unova eram exemplos claros de experts no uso daquele tipo, e
agora Norman queria também colocar seu nome nesse seleto grupo. Hoenn passava
por uma reformulação no plantel de líderes de ginásio, e além de Norman outros
novatos também estavam dando as caras a partir daquela temporada. Isso só deixava
o homem ciente do quanto deveria se preparar, pois seu status de novato entre
os líderes poderia lhe trazer inúmeros treinadores com sede de vitória, achando
que seria um desafio fácil enfrentar alguém inexperiente.
Dentro de casa Ruby descia as
escadas, e viu que sua mãe dormia sentada no sofá da sala de estar. Em cima da
mesinha que havia entre o móvel e a televisão, um notebook com a tela aberta,
porém apagada. Provavelmente estava sendo usado à noite quando Helena dormiu e
acabou por ficar sem bateria. Ela trabalhava remotamente para a Devon Corp, uma das maiores multinacionais do
mundo, e o horário da madrugada era quando ela tinha mais tranquilidade para
fazer tudo. Ruby sorriu ao ver a situação de sua mãe, dormindo completamente
jogada ao sofá como se nada mais importasse. Apenas pegou a coberta que estava
no chão e a usou para cobrir Helena.
— Acho que hoje eu posso preparar o
café.
• • •
A porta dos fundos de uma pequena
casa em Littleroot se abria. De lá saiu Sapphire, recém acordada. A menina se
apoiou na cerca que demarcava a propriedade de sua família, e lá ficou a
apreciar o cheio de terra molhada, percebendo que havia chovido durante a
madrugada. Algumas nuvens em leve tom de cinza ainda passavam pelo céu, mas o
azul já era predominante. Ela parecia tranquila, e nem se lembrava do que havia
acontecido há exatas duas semanas.
De dentro da casa saiu, logo em
seguida, um homem de altura média, aparência robusta, mas com uma expressão simpática.
Seu nome era Birch, e não só era o cientista mais renomado em Hoenn se tratando
de estudos sobre Pokémons, como também compartilhava com sua filha Sapphire o
fascínio pela natureza. Isso o levou a investir sua vida na tranquilidade de
Littleroot, pois achava as grandes cidades muito estressantes, e gostava de
trabalhar em paz.
— Eu gosto quando chove durante a
madrugada. As folhas ficam mais verdes pela manhã — observou o homem, fitando
as inúmeras árvores que cercavam o pequeno vilarejo.
— Às vezes me pergunto que tipo de
coisa a natureza nos reserva ao longo de Hoenn... — comentou Sapphire, ainda
despertando.
A expressão da menina mudou de uma
hora para a outra. Sapphire ficou séria, e Birch logo notou algo de diferente
com sua filha. Alguns pensamentos confusos rodeavam a cabeça dela, e aos poucos
conseguia ver o que era.
— Tenho sentido um vazio
ultimamente, como se alguma coisa estivesse faltando — comentou a menina.
— Tem alguma ideia do que poderia
ser? — indagou Birch, reconhecendo que precisava dar espaço para a sua filha.
— Acredito que sim.
Sapphire ficou calada por um
momento. Birch decidiu que era melhor deixá-la falar quando se sentisse bem.
Não conseguia esconder o quanto gostava da filha que tinha. Além de
inteligente, era bonita. Não se vestia como uma dama, tampouco se comportava
como uma. Mas era justamente aquele jeito que o fascinava, fazendo-o sentir
orgulho de poder ser pai. Ela parecia ter medo de dizer o que estava pensando,
e por isso tentava pensar numa maneira de dizer aquilo sem causar um choque no
homem.
A menina deu um rápido suspiro,
recobrando a consciência, e ajeitou uma mecha dos seus cabelos, que voavam
sobre seu rosto por causa da brisa que ali corria. Ela se afastou da cerca, e se virou de frente para o seu pai. Era a hora de dizer a ele qual o seu
objetivo de vida.
— Eu tenho muito orgulho do que
você faz, e posso dizer que amo trabalhar no laboratório te ajudando com as
pesquisas de campo — ela fez uma pausa. — Mas eu acredito estar precisando de
algo novo. Preciso de uma nova experiência, algo diferente. Quero testar pelo
menos essa possibilidade antes de assumir que sei o que realmente quero para
minha vida.
— Eu entendo perfeitamente, minha
pequena joia — disse Birch, mostrando um sorriso sincero. — Fico muito feliz
que você tenha falado isso para mim. Nunca foi minha intenção prendê-la ao meu
laboratório. Você veio por conta própria. Como pesquisador, fico triste em
perder uma ajuda tão grande, mas como pai eu quero é que você seja livre para
escolher o que te faz mais feliz. O que pretende fazer?
Sapphire se sentiu aliviada ao
ouvir aquilo. Sabia que podia contar com seu pai para tudo. Ele era mais jovem
do que boa parte dos renomados professores Pokémon, mas o fato de ser jovem não o deixava menos sábio.
Birch sabia muito bem usar as palavras, e ainda assim era bem sincero, deixando
bem claro que jamais teria coragem de esconder nada de ninguém, tampouco de sua
filha.
Mais confiante com o apoio paterno,
Sapphire estufou o peito e pronunciou sua vontade:
— Quero sair em jornada por Hoenn,
e tentar a carreira como treinadora!
Birch surpreendeu-se ao ouvir
aquilo. Jamais passou pela sua cabeça que sua filha pudesse se tornar uma
treinadora. Não que ele achasse que ela não tinha a vocação para isso, mas por
outro lado também nunca demonstrou interesse. Pelo menos não até aquele dia.
— É um caminho bem difícil — disse
o homem, agora sério. — Está mesmo decidida a seguir com isso?
— Sim. Eu sempre tive esse
interesse, mas achava que não iria longe. Mas com o passar do tempo, as
pesquisas que tenho feito pra você me trouxeram um bom conhecimento, que posso
usar a meu favor nesse ponto de partida. E com a Liga Pokémon se
reestruturando, acredito que nesse ano teremos uma boa competição. Até mesmo o
Ginásio de Petalburg está reabrindo!
Birch parou por um instante,
ponderando sobre a decisão da filha. Para ele era uma informação inesperada, e
por isso precisava processá-la com calma. Ele sempre quis ver Sapphire no topo,
e a carreira de treinadora, apesar de árdua, poderia lhe dar isso. O homem
sorriu, e sequer olhou para a menina. Apenas continuou observando as folhas das
árvores, mas foi bem claro em sua opinião.
— Você nunca foi do tipo que tomava
decisões sem ter certeza. Eu gosto disso em você — falou Birch. — Se quer mesmo
seguir como uma treinadora, você terá todo o meu apoio. Só peço que me dê
alguns dias para que eu possa ver como te ajudar nesse começo, certo?
— SIM, CLARO! — berrou Sapphire, dando um breve abraço em seu pai logo em seguida. — Eu sabia que
podia contar com você! Eu sempre soube! Você tem o tempo que for necessário.
Sua ajuda é muito bem-vinda!
— Fico feliz em ouvir isso — Birch
então resolveu mudar de assunto. — E já que você mencionou o ginásio de
Petalburg, tenho que te avisar uma coisa.
— O que seria?
— O novo líder é um amigo meu de
longa data. Eu o conheci durante uma viagem a Johto. E ele nos convidou para
jantar na casa dele esta noite. Já até avisei a sua mãe. Então escolha uma
roupa mais arrumada para podermos causar uma boa impressão. Já é bom para que
você conheça um adversário.
Sapphire ficou animada com a
notícia. Conhecer um líder de ginásio era a última coisa que se passava em sua
cabeça após decidir partir em jornada como treinadora. Para ela, esse tipo de
coisa iria demorar um pouco a acontecer, mas pelo visto o os ventos do destino
sopravam a seu favor naquele dia.
— Ah, e mais uma coisa! — Birch se
lembrou. — Ele tem um filho, e é da sua idade. Pode ser que vocês se tornem
amigos.
• • •
Um navio atracava no cais do porto
de Slateport. De dentro dele, descia uma multidão de turistas que de lá
partiriam para os mais distintos pontos turísticos de Hoenn. Porém, uma pessoa
em particular estava ali com um objetivo mais sério. Era uma garota jovem,
alta, de cabelos escuros e lisos. Seus
olhos verdes e curiosos observavam cada canto daquele novo mundo onde acabara
de desembarcar.
Ela deu um suspiro e tirou a alça
de sua bolsa de cima de seu ombro, colocando-a no chão, próxima aos seus pés.
De dentro dela, tirou um mapa da região onde agora estava, e começou a procurar
seu próximo destino.
— Hm... Eu preciso ir para
Rustboro... — dizia a menina, revirando o mapa, chegando a colocá-lo virado
para baixo. — O caminho mais rápido é por Oldaaa... Como é? Ah, Oldale! E pelo
visto tem mais cidades no caminho também. Terei mais chances de parar para
descansar e repor os suprimentos.
Ela então se dirigiu com rapidez ao
pequeno mercado de rua da cidade, famoso no mundo todo por vender iguarias da
região, bem como itens para treinadores a preços bem mais acessíveis. Foi
passando de tenda em tenda, estocando os itens necessários para seguir viagem
até seu próximo destino.
Quando se viu pronta, tomou caminho
para a Rota 110. À sua frente estava uma região nova, e sequer imaginava o que
a aguardava do outro lado daquele mar de árvores. Ela respirou fundo, tomou
coragem e enfim partiu rumo ao imprevisível futuro.
• • •
Já anoitecia quando Birch e sua
família chegavam a Petalburg. Sapphire mantinha a euforia desde cedo, já que
estava prestes a conhecer um líder de ginásio que poderia vir a enfrentar em pouco tempo. Passados alguns minutos estavam em frente ao ginásio da
cidade, onde também se situava a residência de Norman e sua família. A frente
era imponente, já que a primeira cena que recebia os visitantes era a do
ginásio. Sapphire fitou a construção quase hipnotizada com a aura poderosa que
aquele local emanava. Foi trazida de volta à realidade por seu pai, já a
chamando para entrar após terem sido recebidos por Helena.
Passaram por um curto corredor do
lado direito do ginásio, chegando à entrada da casa que ficava logo ali. No
caminho era possível ver um jardim bem cuidado. A sala de estar os aguardava do
outro lado das paredes, e a organização da casa era o grande trunfo da família
de Norman para causar uma boa impressão à família de Birch. Helena os acomodou
no sofá da sala, enquanto eles esperavam que Norman finalmente aparecesse. E
depois de alguns minutos o líder desceu as escadas, indo direto cumprimentar
seu velho amigo.
— Que bom vê-lo novamente, Birch! —
cumprimentou Norman. — Sejam bem-vindos à minha casa. Fico feliz em finalmente
conhecer sua família.
— O prazer é todo meu, Norman —
Birch sorriu em resposta. — Estas são Cecilia, minha esposa, e Sapphire, minha
filha. Aliás, fui pego de surpresa hoje de manhã quando ela me disse que
começaria a carreira como treinadora esse ano.
Norman fitou a menina com
curiosidade. Para ele era sempre inspirador conhecer treinadores jovens que
estavam iniciando suas carreiras. Era como se os jovens lhe trouxessem de volta
a euforia e o gosto pelas batalhas e pela vida típica de um treinador. E o fazia
lembrar-se de sua nostálgica jornada, quando era adolescente.
— Sério? Que ótimo! — disse o
homem. — Sapphire é o seu nome, não é? Quantos anos você tem?
— Atualmente dezesseis — Respondeu a
menina, ainda um pouco ansiosa por estar conversando com um dos líderes de
ginásio de Hoenn — É um prazer te conhecer pessoalmente!
— Interessante, você tem a mesma
idade do nosso filho — Helena comentou. — Ele já deve estar descendo. Aposto
que vocês vão acabar se dando bem.
Não demorou muito tempo para que
alguns passos fossem ouvidos do andar superior da casa. Na medida em que o
barulho se aproximava, todos já se preparavam para assumir seus lugares na mesa
de jantar. Então Ruby finalmente apareceu, e logo se uniu a seus pais. Birch e
Cecilia sorriam ao cumprimentar o garoto, que por sua vez retribuía o gesto
gentilmente.
— Então você é o filho do Norman —
comentou Birch. — É um prazer conhecê-lo, Ruby.
— O prazer é todo meu, Professor
Birch — disse Ruby, apertando a mão do homem. — É uma honra conhecer um
pesquisador tão relevante.
— Será que você herdou do seu pai
os genes para batalhas? — brincou o cientista. — Se for o caso, acredito que
você tenha um futuro promissor como treinador.
— O Ruby tem bastante conhecimento
em batalhas, mas acho que a praia dele é outra — comentou Norman.
— Mesmo? — Birch indagou curioso. —
E qual seria?
O menino pareceu animado em poder
contar a todos os presentes o seu grande objetivo. Mas na medida em que reparava em
cada visitante na sala, seus olhos estacionaram na menina ali presente.
Rapidamente sua cabeça começou a embaralhar os pensamentos, trazendo à tona
todas as lembranças do que havia ocorrido duas semanas antes.
Sapphire notou a reação de Ruby, e
logo se deu conta de onde tinha ido parar. De todas as casas que havia na
cidade de Petalburg, tinha que ser justamente aquela. A garota começou a ficar
trêmula, mesmo que quase imperceptivelmente. O tempo congelou para aqueles dois
jovens, estranhos um ao outro. As memórias ficavam cada vez mais claras, como
se tudo estivesse acontecendo novamente.
Porém, quando o garoto ameaçou
falar alguma coisa, ele rapidamente foi interrompido por Birch.
— Ruby? Aconteceu algo?
— Oi? Digo, não! De modo algum! — o
menino então riu, coçando a parte de trás da cabeça.
— Você estava para me contar qual é
o seu grande objetivo, e de repente parou.
— Ah, sim! Claro! — Ruby estufou o
peito com toda a pompa, e com orgulho fez o seu pronunciamento. — Minha meta é
me tornar um coordenador conceituado, e se possível vencer o Grande Festival!
Foi uma das razões pelas quais eu gostei de vir morar em Hoenn.
Birch riu, pois não imaginava que
ouviria aquela resposta. Aquele era um dia onde o homem realmente estava sendo
surpreendido pelos mais jovens.
— Seu garoto definitivamente é
diferente de você, Norman! – disse o pesquisador. — Ruby, isso é ótimo! As competições
entre coordenadores exigem uma grande capacidade de raciocínio e criatividade,
além das habilidades em batalhas. Os top coordenadores são pessoas muito
respeitadas em todos os cantos de Hoenn, afinal, essas competições nasceram aqui!
— Eu sei que é um caminho árduo,
mas os contests sempre foram minha grande paixão! Eu tenho certeza de que eu
posso fazer parte disso!
Ruby então voltou sua atenção para
Sapphire, lançando um olhar desconfiado que só a deixou ainda mais tensa.
Naquele momento Helena chamava todos para se sentarem à mesa, e os dois permaneceram
calados. A conversa entre os mais velhos alternava os mais variados assuntos,
mas os dois seguiam com o foco completamente diferente. Ruby permanecia
encarando a menina, que tentava desviar o olhar numa tentativa em vão de se ver
livre da pressão que ele exercia. Era como se ela estivesse sob um julgamento
final, ou algo bem próximo disso.
A fim de se ver livre do
desconforto, Sapphire terminou o único prato que comeria naquela noite e pediu
licença para ir ao jardim pegar um pouco de ar. Conforme os minutos se
passavam, a menina não voltava. Com isso, tanto os pais dela quanto os de Ruby
começaram a estranhar a situação.
— Será que ela está passando mal? —
perguntou Cecilia.
— Querem que eu vá ver se ela está bem?
— Helena se ofereceu.
Ruby então se levantou da cadeira,
e se dirigiu à porta que dava para o lado de fora da casa.
— Eu já terminei de comer — disse o
menino. — Podem ficar tranquilos, eu vou ver o que aconteceu.
Ruby chegou ao jardim na lateral da
casa, mas percebeu que ali não havia ninguém. O garoto seguiu até a parte da
frente, onde ficava a entrada do ginásio de seu pai, e lá finalmente encontrou
Sapphire parada, encarando o local. Ela parecia não ter percebido a sua
presença, então ele se aproximou. Quando a menina notou que já não estava mais
sozinha acabou se assustando novamente. Mas Ruby fez questão de amenizar a
tensão que havia entre os dois.
— Não precisa ficar com medo —
disse ele. — Não é como se eu fosse um Ursaring selvagem, ou algo do tipo. Também não
pretendo contar a ninguém sobre o que aconteceu naquele dia.
Sapphire respirou fundo em sinal de
alívio. Ruby parecia bem sincero com suas palavras, então a menina resolveu dar
a ele um voto de confiança.
— Eu estava com medo de você acabar
contando. Acho que isso causaria um constrangimento aos meus pais, o que faria
eu me sentir horrível. Eles não têm culpa se eu sou uma completa desastrada.
— Você não parecia estar perdida —
comentou Ruby, recostando-se em um dos pilares da entrada do ginásio com um sorriso debochado. — Como veio
parar no meu quintal?
— É uma longa história. Mas posso
te garantir que nunca foi minha intenção invadir sua casa, ou criar qualquer
confusão. Por isso eu saí correndo, pois eu queria que aquilo fosse esquecido o
mais rápido possível.
— Naquele dia eu estava chegando de
mudança. Acha que eu iria me esquecer que no meu primeiro dia morando aqui em
Hoenn uma garota estranha acabou dentro do meu quintal sabe-se lá por quê?
Sapphire riu com o comentário do
menino. Ruby era bem articulado com as palavras, mas sabia ser descontraído e
possuía um humor discreto, o que não podia ser visto claramente por sua feição
externa passar a imagem de um garoto fechado. Ele então estendeu sua mão,
propondo um cumprimento.
— Bem, acho que podemos agora
corrigir aquela apresentação louca. Eu me chamo Ruby.
— Meu nome é Sapphire — disse a
menina ao retribuir o gesto.
— Parece que nossos pais tiveram a
mesma grande ideia ao nos dar nossos nomes, não é mesmo?
Sapphire deu alguns passos para o
lado e se recostou em outra pilastra de modo a ficar frente a frente com Ruby. Ela já não tentava mais encolher a cabeça entre os ombros, e suas mãos estavam juntas não por timidez ou nervosismo, mas como um sinal de que a menina estava mais à vontade.
— Então você quer se tornar
coordenador? Por que essa escolha?
— Digamos que eu tenho quem me
inspire — o menino respondeu.
— Eu decidi iniciar como treinadora
— Sapphire então comentou. — Podemos nos ajudar nesse caso, já que temos a
mesma pretensão, só que em objetivos diferentes.
Ruby voltou seu olhar para a
menina. Estava curioso para saber onde ela queria chegar. Sapphire mantinha um
sorriso travesso estampado em seu rosto, como se estivesse se divertindo com o
fato do menino estar confuso.
— Você não faz ideia do que eu tô
falando, não é mesmo?
— Para ser sincero, nem um pouco —
Ruby coçou a cabeça, exibindo um sorriso sem graça.
— Se você vai tentar vaga no Grande
Festival, tem que conseguir as premiações dos contests menores primeiro. Para
isso, você tem que ir até as cidades-sede. Você vai ter que pegar a estrada,
assim como eu.
— Bem, isso eu sei — disse o
menino. — Mas aonde você quer chegar? Não consigo pensar em como dois objetivos
diferentes podem nos fazer ajudar um ao outro.
Sapphire balançou a cabeça em
negação. A ingenuidade de Ruby era quase preocupante.
— O que eu quero dizer é que
deveríamos viajar juntos. Podemos ajudar um ao outro, pelo menos na parte de
treinamento, e dividir algumas despesas.
— Oh, parece uma boa ideia! — disse
Ruby. — Estou de acordo.
Os jovens então ouviram a
aproximação de duas pessoas. Eram Norman e Birch, e pareciam contentes em estar
ali. O líder de ginásio manteve-se em seu lugar, enquanto o pesquisador se
aproximou dos dois que ali estavam.
— Então quer dizer que nem
iniciaram suas jornadas, mas já decidiram formar uma equipe? — analisou Birch.
— Isso é ótimo! Viagens em conjunto são sempre mais divertidas.
— Não vamos viajar para nos
divertir — disse Sapphire. — Temos objetivos sérios para alcançar.
— Entendo, entendo. Bem, nesse caso
eu tenho uma boa notícia. Um contato que eu tenho me ligou no fim da tarde, e
está me enviando três Pokémons raros. Eu pretendia pedir a Sapphire que
escolhesse um companheiro para partir em viagem, e já que o Ruby está indo
junto, também vou deixar que escolha um.
Ruby ficou surpreso com a notícia
que acabara de receber. Ele queria se tornar um coordenador, mas sequer tinha
ideia de quando isso aconteceria. O menino abriu um largo sorriso, demonstrando
que aceitaria a proposta sem pensar duas vezes.
— Eu... Eu não tenho o que dizer —
disse o garoto, ainda espantado. — Isso é sério?
— Muito sério! — Birch respondeu
rindo. — Por que eu mentiria para você?
— Quando o meu pai diz que vai
pegar um Pokémon raro, ele tá falando sério! — disse Sapphire, tocando o ombro
de Ruby.
— Eu estava esperando que eles
chegassem na semana que vem. Porém eu conversei com a pessoa que os consegue
para mim, e ele disse que tinha uns reservados para essa ocasião — explicou o
cientista. — Eles devem chegar em três dias.
Norman se aproximou de Ruby para
poder lhe passar algumas informações. Por um minuto os dois trocaram olhares. O
pai mantinha uma expressão serena, porém era possível perceber que estava
sentindo orgulho naquele momento. Ruby não teve dificuldades para perceber
isso, e retribuiu com um sorriso.
— Acho que você deve começar logo
essa caminhada. Ouvi dizer que as inscrições para o Grande Festival começarão
na semana que vem — o homem então voltou sua atenção para Sapphire. — O mesmo
vale para a Liga Pokémon. Vocês dois precisam se organizar depressa.
Tanto Ruby quanto Sapphire
assentiram. Aquele era o momento em que a estrada para seus objetivos começava
a ganhar o pavimento necessário para que enfim pudessem partir. Aquela noite
marcava o cruzamento de dois sonhos distintos, e de lá sairia um só caminho
para abrigar duas histórias. Quis o destino que um encontro anterior pregasse
uma peça nos futuros aventureiros.
No entanto, apesar da introdução
peculiar, tudo levava a crer que Ruby e Sapphire construiriam uma boa amizade
durante o tempo viajando juntos. O que os aguardava pela frente era uma
incógnita, e só o tempo seria capaz de dizer que tipo de coisas eles
encontrariam ao cruzar as estradas da vasta região de Hoenn. Mistérios,
pessoas, dentre as quais estão amigos e rivais, novos lugares, novas histórias.
Olhavam para o céu para buscar inspiração nas estrelas, e conseguiam ali
enxergar o caminho livre para uma aventura quase interminável. Não era mais a
hora de ter dúvidas ou medo. Ambos estavam dominados pela confiança e força de
vontade e, apesar da inexperiência, estavam famintos para aprender tudo que
fosse possível.
Aquele era apenas o começo de seus
sonhos. Era a hora, enfim, de transformá-los em metas. Era a hora, enfim, de
alcançá-los. Era a hora de conquistar a glória, de estar entre os maiores, de
ter seus nomes lembrados pelas próximas gerações.
Conhecer aquele mundo que os
rodeava nunca pareceu tão atrativo.
Always Human
Se tem algo que não me atrai numa narrativa, esse algo é romance. Adoro histórias que tenham romance em seu meio, mas, se for o foco, eu simplesmente reviro os olhos e ignoro.
A não ser que seja uma história muito bem escrita – e que, no fundo, não seja exclusivamente romance.
E foi assim que Always Human me capturou.
Eu achei meio por acaso. Estava atrás de algumas fanarts korrasami quando encontrei o tumblr da autora, e, nele, tinha o link para a história. Já encantada pelo traço dela, pensei "por que não?"
Aliás, podemos falar sobre essa obra de arte que é o traço dela? Tem momentos que fico parada num quadro não por estar lendo-o, mas para admirar a imagem mesmo.
Bem, sobre a história em si. Always Human se passa em um ambiente futurista, onde os humanos fazem uso de “mods”, que promovem diversas facilidades e mesmo necessidades, desde mudar a cor de um cabelo até prevenção de uma doença. Nele, vemos Sunati e seu encontro com Austen, alguém com uma síndrome que a impede de usar os mods. Como diria a sinopse da própria autora, “Uma história sobre nanobôs, engenharia genética e duas garotas se apaixonando. Não importa quanto a tecnologia nos mudar, sempre seremos humanos”.
É uma história suave, com um ritmo fácil de acompanhar e enredo fácil de te cativar. Porque não é apenas uma história de amor. Há um grande profundidade na personalidade de ambas as protagonistas, e cada capítulo te ajuda a entender um pedacinho novo delas. Elas, de fato, são muito humanas. Elas tem qualidades, tem defeitos, acertam, erram, tem pensamentos diferentes, gostos únicos... Você se sente próximo a elas, e até se identifica (eu mesma me vejo demais na Sunati). E isso torna os diálogos reais. Não é um simples “eu te amo”; é “eu quero conhecer você melhor, mesmo suas falhas, até que a garota que eu veja seja quem você é de verdade”.
E um dos pontos mais fortes, algo que me ganha com facilidade: Representatividade. Já começa que a história gira em torno de um casal lésbico, né? Mas não para por aí. Já fomos apresentados a um personagem agender*, e, em uma das atualizações recentes, descobrimos uma aro/ace** (meu coraçãozinho ace pulou de alegria <3 ).
Aliás, infelizmente, ainda não achei nenhum lugar que traduzisse, mas as falas em geral são curtas e simples, então não precisa de nenhum nível avançado de Inglês para compreender (e sempre existe google tradutor para quebrar um galho né).
Enfim, espero que tenham curtido essa recomendação, e se encantem com essa singela história tanto quanto eu <3
*agender – pessoa que não se identifica com nenhum gênero (em Inglês, você pode usar o pronome “they” como singular nesse caso)
**aro – abreviatura para "aromantic" (arromântico, traduzindo), pessoa que não sente atração romântica
ace – abreviatura para "asexual" (assexual), pessoa que não sente atração sexual
ace – abreviatura para "asexual" (assexual), pessoa que não sente atração sexual